O Dízimo, o Fim do Sacerdócio Levítico e o Acesso Direto a Deus: Uma Análise Bíblica
Durante o período do Antigo Testamento, a tribo de Levi foi escolhida por Deus para exercer funções sacerdotais e espirituais em Israel. Como parte de sua responsabilidade, os levitas tinham o direito de receber os dízimos do povo, conforme estabelecido na Lei de Moisés. Em Hebreus 7:5, o autor afirma: “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão.” Isso confirma que o dízimo era um mandamento legal sob a antiga aliança, instituído como forma de sustento aos sacerdotes levíticos, que serviam no templo e realizavam os sacrifícios exigidos pela Lei.
Entretanto, com a morte de Jesus Cristo, um marco fundamental foi estabelecido na história da fé cristã: o véu do templo se rasgou de alto a baixo, conforme relatado em Mateus 27:50-51: “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas.” O rasgar do véu simboliza o fim da separação entre Deus e a humanidade, tornando desnecessária a mediação dos sacerdotes levitas. A partir desse momento, todo aquele que crê em Cristo passa a ter acesso direto ao Pai, por meio do novo e vivo caminho inaugurado por Jesus (cf. Hebreus 10:19-20).
A Carta aos Hebreus reforça a mudança radical no sacerdócio com as seguintes palavras em Hebreus 7:11-12: “Se, pois, a perfeição era mediante o sacerdócio levítico (…), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse contado segundo a ordem de Arão? Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei.” Este texto revela que o ministério levítico era imperfeito e transitório. Com o advento de Jesus, sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, estabelece-se uma nova ordem, baseada na graça e não na Lei mosaica. Portanto, a mudança de sacerdócio implica a substituição das práticas ligadas à antiga aliança, inclusive o sistema de dízimos obrigatórios como sustentação do templo e dos levitas.
Em consonância com esse novo tempo, Jesus orienta Seus discípulos a ministrarem sem interesse financeiro ou troca material, como está escrito em Mateus 10:8: “Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça daí.” A lógica da nova aliança é o serviço gratuito, o amor sem barganha, a doação sem esperar recompensa terrena. Assim, o foco sai da manutenção de um sistema sacerdotal exclusivo e se volta para uma comunidade de fé em que todos os crentes são sacerdotes (1 Pedro 2:9), chamados a servir e repartir conforme a graça que receberam.
Dessa forma, à luz das Escrituras, percebe-se que o dízimo, como ordenança levítica, fazia parte de um sistema que foi superado em Cristo. Com a nova aliança, o relacionamento com Deus não depende mais de estruturas sacerdotais humanas ou de obrigações legais, mas sim da fé, da graça e do amor que se expressam em generosidade voluntária e em serviço ao próximo.
Artigo: Irmão Saulo Pereira da Silva